O Que Fica De Mim?

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Isto pode soar estranho para uma pessoa de 16 anos que não tem nenhum problema psicológico que leve a pensar em morrer, mas de novo eu me pego pensando no fim de minha vida. Não pensando em acabar com tudo (isso nunca), mas sim no que ocorreria depois que a sociedade brasileira não contar mais com a presença de Lara Tôrres de Almeida. Penso no que estou fazendo agora, na minha relação com as pessoas, no que eu estou construindo em vida, e principalmente nas marcas que eu estou deixando neste mundo, nas pessoas que estão junto a mim. Recentemente presenciei uma homenagem a uma pessoa que faleceu, sendo citada por todos como um perfeito guerreiro em vida, como alguém exemplar e super cativante... alguém querido que arrancou lágrimas incontáveis dos que ficaram e o viram partir. Daí pensei : Será que eu vou ter algo assim quando for chegada a minha hora de morrer? Eu vou merecer? Meus familiares, meus amigos, mestres que passaram por mim  nesta deliciosa época de colégio... enfim as pessoas com quem eu convivo mais, os que me conhecem melhor, vão sentir minha falta com pesar verdadeiro? Como eu vou ser lembrada pelos que foram até o fundo da minha personalidade? Minha memória será boa para as pessoas? São momentos felizes que ficaram gravados nas mentes dos que se lembrarem de mim? No fim de tudo, quem afinal terei sido eu? Alguém que foi capaz de proporcionar alegrias e prazer aos que puderam se aproximar e conhecer a fundo minha personalidade? Ou uma pessoa que era desagradável ou pelo menos insignificante na vida dos outros, alguém cujo o convívio foi algo desagradável e entediante... uma pessoa que pode ser facilmente esquecida, excluída, apagada em definitivo da mente dos demais, do coração de todos? Afinal alguém realmente me tem dentro do coração de maneira definitiva, sem chance de ser esquecida ou superada após um vacilo que deixa mágoas? Eu estou fazendo algo que merece ser lembrado, digno de uma homenagem sincera e comovente? Tenho no final de tudo deixado algo de valor no mundo?

Me vejo muito em meio a estas inquietações, por ter bastante medo de chegar ao fim do meu caminho mundano sem ter deixado absolutamente nada com ninguém, nenhuma boa lembrança, nenhum momento gostoso, uma saudade boa, memórias que envolvam risadas e lágrimas de saudade verdadeira, lágrimas de quem realmente se preocupava, queria estar e lutar ao meu lado, de quem se importou com meu bem estar... lágrimas de amor ausente por conta do único mal irremediável que reúne todos os seres vivos num único rebanho de condenados.
Mudando um pouco do tema pós-morte, cito também aqui as razões de eu viver dessa forma, pensando no que eu estou fazendo no mundo e se ao fim de tudo isto o que estará feito é digno de reconhecimento pela parte de qualquer pessoa. Auto-estima nunca foi meu forte, sempre me vi como alguém negativamente diferente das outras pessoas, porém apenas isto não bastaria para gerar tanto conflito em mim. Minha infância foi tranquila se não considerar a dureza e severidade excessivas que sempre tive na imagem de meu pai, exigindo sempre que eu fosse a melhor das melhores em tudo para ter sucesso em minha vida. Minha adolescencia chegou, e eu me vi aflita assim depois de ter visto tantas pessoas sendo esquecidas mesmo ainda estando vivas, tive que aceitar e suportar a ideia de que eu amaria certas pessoas à minha volta, mas que o meu amor por si só não garantiria a reciprocidade de sentimentos. Assim fui me sentindo cada vez mais como zero à esquerda por perceber que as pessoas nunca me correspondiam igualmente, não me procuravam nem ligavam realmente para mim, não havia uma preocupação verdadeira com o meu bem estar psicológico, físico e emotivo por parte de pessoas com as quais eu dividi meu coração em vários pedacinhos capazes de conter em cada um tamanha quantidade de sentimentos que valiam por um coração inteiro, como uma esponja do mar que ao ser despedaçada forma um novo ser de cada fragmento seu. Somando isso à meu gosto pela história, eu me vi ainda mais perdida por ter adquirido o desejo de dar uma de Anne Frank permanecendo viva após minha morte, ou de Getúlio Vargas que deixou a vida entrando para a história. Passar pelo mundo, viver e morrer sem ser notada ou reconhecida por feito algum, quer fosse ele bom ou mau não me servia mais. Conhecer o mundo não é o bastante, o mundo precisa me conhecer. Mas em meio a tanta falta de reconhecimento pelos meus esforços para ser alguém bom o bastante nem mesmo por parte dos mais íntimos e chegados, como então eu posso estar trilhando um caminho que me levará a alcançar o sucesso, a realização do sonho de fazer algo útil e digno de reconhecimento, que me faça ser lembrada mesmo depois de meus ossos tornarem-se adubo, deixando a imagem de uma pessoa de bem que fez algo de útil e agradável, como ser alguém que enquanto viva levou alegrias e momentos prazerosos aos que puderam conhecer-me? Como fazer de minha companhia uma alegria, como fazer minha presença ser felizmente notada e minha falta ser sentida? O que afinal fica de mim para ser lembrado? Eis aí mais uma resposta que eu gostaria de ter. Ou pelo menos saber esquecer as perguntas, a fim de que elas não me levem à loucura.

Lara Tôrres.



 

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